AGRICULTURA E CONSUMO

AGRICULTURA E CONSUMO CIRCULARES E SUSTENTÁVEIS


Desde há vários milhares de anos, muito antes das grandes cidades e da tecnologia que agora conhecemos, a ligação das pessoas à terra era muito mais direta e íntima. As pessoas plantavam os seus próprios alimentos, cuidavam do solo e observavam com atenção os ciclos da natureza.

A agricultura tem sido uma constante na nossa história, mas o modo como cultivamos os alimentos sofreu grandes transformações. No passado, os campos eram regenerados naturalmente e mantinham a sua fertilidade. Com o passar do tempo e com o aumento da população, começámos a recorrer a ajudas externas, como fertilizantes, para garantir uma produção suficiente.

Entre essas ajudas, surgem os famosos NPK - Azoto, Fósforo e Potássio, essenciais para as plantas crescerem e garantirem uma produtividade por hectare elevada, mesmo em terrenos pobres e desertificados. 

O Azoto (ou nitrogénio) é extraído do ar através de um processo chamado Haber-Bosch, que consome muita energia, na maioria das vezes proveniente de fontes fósseis, poluentes e finitas. O Fósforo é obtido de rochas fosfatadas e o Potássio é extraído de minas. Contudo, o seu uso intensivo e a sua extração não são sustentáveis a longo prazo.

Agora, imaginemos uma cidade cheia de prédios e pessoas. Quando consumimos alimentos, o que sobra, incluindo as nossas próprias fezes, contém muitos destes nutrientes, ou seja o excesso que o nosso corpo não assimilou. Na maioria das cidades, este resíduo é encaminhado através de sistemas de esgotos que, tratados ou não, frequentemente desaguam em rios e oceanos. Este processo pode levar à "eutrofização", um fenómeno que acontece quando estes nutrientes excessivos fazem crescer rapidamente algas nos corpos de água, podendo ser prejudicial para os ecossistemas aquáticos.

No Gandum Village, contudo, as coisas serão feitas de forma diferente e exemplar. Em vez de enviar estes valiosos nutrientes para rios ou oceanos, estamos a construir uma Fito-ETAR. Mas o que é isso? "Fito" vem de planta e "ETAR" significa Estação de Tratamento de Águas Residuais. Basicamente, é uma forma de tratar a água usando plantas. As águas residuais passam por estas plantas, que ajudam a purificar a água e sem recorrer a consumo energético. No final, obtêm-se lamas ricas em nutrientes, que podem ser devolvidas ao solo.

A grande novidade aqui é a perceção de que as nossas fezes e águas residuais não são apenas resíduos sem utilidade. São, na verdade, recursos valiosos! E em vez de as perdermos, devíamos devolvê-las à terra. Isto permitiria que a terra se mantivesse fértil sem depender excessivamente de fertilizantes sintéticos como o NPK.

Se pensarmos bem, as nossas casas de banho tornam-se quase como minas de ouro para a agricultura. Pode parecer estranho, mas é verdade. As fezes humanas contêm nutrientes essenciais que as plantas precisam para crescer saudavelmente.

Ao olharmos para o Gandum Village, percebemos que, em pequena escala, é possível criar um sistema mais sustentável e harmonioso. É quase como se estivéssemos a ver um modelo em miniatura do que poderia ser o nosso mundo, onde cada peça se encaixa e nada é desperdiçado.

A utilização de fertilizantes sintéticos como o NPK é um desafio gigantesco no campo da sustentabilidade. A agricultura convencional, dependente de grandes quantidades de fertilizantes e pesticidas, enfrenta um problema sério de esgotamento dos solos. A solução pode estar em sistemas como os do Gandum Village, que nos mostram que é possível fechar o ciclo dos nutrientes.

Portanto, ao pensarmos no futuro e na sustentabilidade, é importante lembrar que as soluções podem estar mesmo à nossa frente, ou mesmo debaixo dos nossos pés. O Gandum Village serve como uma vitrine, mostrando que, com vontade e inovação, é possível criar sistemas mais equilibrados e em harmonia com a natureza.

Anterior
Anterior

PLANTAS E SANEAMENTO? SIM, É UMA FITO-ETAR.

Próximo
Próximo

NET BALANCE ZERO